A alma norte americana – Ex Machina

Na edição 39 de Ex Machina (série de Brian K. Vaughan) o prefeito de Nova York, ex vigilante mascarado conhecido como A Grande Máquina, discute com seus assessores se vai permitir uma manifestação da Klu Klux Klan na cidade. Os argumentos a favor e contra vão desde o conservadorismo pós 11 de setembro, o aspecto legal do uso de mascaras em manifestações, até as liberdades civis. Como ex super herói que ocultava sua identidade, o prefeito cita a sentença de uma decisão da suprema corte norte americana que assegura o direito de não assinar textos de ataque contra políticos – “O anonimato é um escudo contra a tirania da maioria. Exemplifica, portanto, o propósito subjacente à declaração de direitos do cidadão: proteger indivíduos impopulares contra a retaliação nas mão de uma sociedade intolerante”. Ele conhecia essa decisão judicial porque acreditava que poderia usá-la no caso de ser processado por ser um herói mascarado. No final dessa discussão toda o prefeito Mitch Hundred decide dar autorização para a manifestação do KKK, argumentando que  anonimato é a maneira mais eficiente de mostrar que as suas ideias não tem valor (e os membros do Klan usam máscaras e chapéus para esconder seus rostos). Ele cita Martin Luther King como um exemplo de bravura, e de quebra questiona toda a lógica dos quadrinhos de super heróis.

Em pesquisas recentes 30% da população norte americana se declara independente em relação ao bipartidarismo oficial. Republicanos e Democratas são muito parecidos pra nós que temos uma ideia de esquerda mais ligada a tradição européia . Em Ex Machina o prefeito é um ex super herói que tira a máscara e se candidata a prefeito por um partido independente após salvar umas das torres gemeas no 11 de setembro . O autor Brian K. Vaughan não mede as palavras na boca de seus personagens e discute os clássicos temas polêmicos que todo político tem que enfrentar, a relação com a imprensa e a opinião pública, além da vida pessoal, do passado e dos poderes estranhamente adquiridos pelo personagem.

Lembra muitas vezes a série West Wing, que mostrava os bastidores da Casa Branca, os assessores e todos os acordos e trocas de favores costurados atrás da cortina. Também tem um pouco de Law and Order, pontuando os conflitos entre a lei e a justiça, mas tem principalmente o conceito do destino manifesto como pano de fundo da série. Brian K. Vaughan consegue nos apresentar a alma norte americana, que acredita ser eleita por Deus (incluindo o Papa em uma das histórias do prefeito), defensora (e impositora) da democracia e das liberdades individuais. O “Deus feito máquina” do título é o cowboy que salva a civilização da barbárie e esta pronto morrer pela pátria e pelo povo.

Ex Machina vale pra quem quer conhecer o imaginário norte americano com todas as suas contradições e qualidades.  Outros trabalhos do autor que valem o registro são Y-O Último Homem (Vertigo), Fugitivos (Marvel), Lost (TV). Eu recomendo todos.

Sobre Picareta Psíquico

Uma ideia na cabeça e uma história em quadrinhos na mão.
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4 respostas para A alma norte americana – Ex Machina

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