A importância da narrativa em jogos

Jogo Florence (2018) para a plataforma Mobile.

O que é mais importante para você em um jogo: história, jogabilidade ou gráficos?

 

 

 

 

 

 

Por Lun

É bem possível que você, em algum momento, viu alguém contando algum acontecimento e pensou “Essa pessoa realmente sabe descrever uma história”. Bom, isso é narrativa, a arte de narrar eventos, fatos e/ou história. Um bom narrador consegue deixar o seu público entretido nos seus contos, emanando por meio de livros, quadrinhos, filmes, teatro e, até mesmo, conversas do dia a dia, um entretenimento fixante.

Agora, em jogos, será que também é assim?

Pergunte a qualquer profissional experiente do desenvolvimento de jogos e ele lhe dirá que algum iniciante da área, alguma vez, já veio a ele dizendo que tinha uma ideia de jogo incrível, e quando foi contá-la, ficou boa parte do tempo falando apenas da enredo, dos personagens ou da arte, enquanto o gameplay, mecânicas e sistemas, não foram muito mencionados. Isso, pois, é muito comum para os players pensarem que estão comprando um jogo para vivenciarem uma boa história. Visto que, na maioria das vezes, a narrativa e os gráficos são as primeiras coisas que fazem contato com o público, enquanto todas as mecânicas do gameplay ficam em segundo plano, camufladas pelo contexto que o enredo propõe ou pela arte que o jogador visualiza. Por exemplo, se lermos a sinopse de God of War (2005), veremos apenas um retrato do tema do jogo, do contexto e da narrativa, e não ficaremos sabendo sobre o jogo ser em terceira pessoa, linear, cheio de puzzles, hack’n slash, com quick time events e inúmeras habilidades para desbloquear e aprender. Isso, pois, é muito mais atrativo e fácil informar ao jogador que, ao comprar o jogo, ele derrotará deuses do Olimpo com o personagem mais brutal do mundo dos videogames.

Personagem Kratos, God of War (2018).

Mas, então, o quão importante é um enredo em jogos? A resposta ideal, mas não muito esclarecedora, é: depende do jogo. Os jogos de Storytelling como, por exemplo, Life is Strange (2015) e Until Dawn (2015), são de um gênero narrativo de jogo que consiste em escolhas, logo, a importância do enredo cresce; já o gênero MOBA — que popularizou-se com o League of Legends (2009) — se a história interferir no balanceamento dos personagens, um número massivo de jogadores se frustram; e existem os jogos para mobile, como Clash of Clans (2012) e Pokémon GO (2016), que, por conta do tempo de sessão de jogo, da plataforma e do mercado, não são adequados para uma experiência narrativa profunda.

Entretanto, apesar do “depende”, para os desenvolvedores, uma coisa é certa, a parte jogável em si, a interatividade, as mecânicas e os sistemas, são, sim, as coisas mais importantes dentro de um jogo. Todavia, como tudo na vida, há exceções, o estúdio Mountain fez, como seu primeiro jogo, uma história interativa para a plataforma mobile chamado Florence (2018) que, pelo The Game Awards,  ganhou no seu ano de lançamento o título de melhor jogo mobile do ano. Florence cumpriu a difícil tarefa de desenvolver uma narrativa interativa em uma plataforma inadequada para o gênero: os dispositivos móveis. Outro bom exemplo é, The Last of Us (2013), um jogo para Playstation 3 que, após assistirmos o documentário Grounded: The Making of The Last of Us (2013), percebemos como a produção do jogo foi focada na imersão do jogador, na caracterização dos personagens e na construção de uma narrativa profunda e subjetiva, extremamente equilibrada com o gameplay.

Personagens Joel e Ellie, do jogo The Last of Us (2013) para Playstation 3.

Então, após isso, concluímos que a história serve para dar contexto à parte jogável, ela concede uma razão para as mecânicas e sistemas acontecerem, e, também, aprofunda e intensifica as sensações que o jogador sente ao jogar. Pense, é muito legal ver um cara pintado de cinza matando os inimigos com correntes presas em lâminas flamejantes, as girando, espalhando sangue, dando piruetas e combos; mas é mais interessante e imersivo saber que ele está fazendo isso porque o deus grego Ares o enganou e fez ele matar sua própria família, e agora ele quer vingança.

Resumidamente, e em metáfora, se a jogabilidade é a carne, a história, enredo e narrativa são os temperos que deixam tudo mais interessante. Ou seja, é impossível jogar um jogo sem sua parte interativa (mecânicas, sistemas e estruturas), logo, se esses componentes não forem bons, o jogador perde a vontade de continuar usufruindo do produto. Entretanto, é mais gostoso apreciar tudo isso se existir um aprofundamento sentimental e simbólico da narrativo que, em composição, fazem do jogo, uma experiência mais imersiva e profunda.

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Uma resposta para A importância da narrativa em jogos

  1. Jéssica Maria Correia disse:

    Show!! Adorei!! ❤

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