Hoje temos a volta de um Red Shirt! Depois da resenha de América, de Robert Crumb, Maurício Kanno nos apresenta Penadinho: Vida, de Paulo Crumbim e Cristina Eiko!
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Muita gente se acostumou com o baixote fantasma Penadinho e sua turma do cemitério, nas revistas da Turma da Mônica de Mauricio de Sousa. É uma grata surpresa ver esses personagens belamente reinterpretados pelo casal de artistas Paulo Crumbim e Cristina Eiko, mesclando o sombrio sobrenatural com o “fofo” em Penadinho: Vida, a sétima Graphic MSP – graphic novels que reinterpretam os personagens de Mauricio de Sousa – , que saiu no mês passado (maio/2015).
É curioso acompanhar os personagens nesse novo traço. Os fantasmas Penadinho e Alminha, o irreverente vampiro Zé Vampir e o inocente grandalhão Frank (versão do monstro de Frankenstein) tendem mesmo para o fofo e infantil. Já Muminho (a múmia da turma), apesar de se mostrar o personagem mais medroso, tem paradoxalmente um visual mais assustador e tétrico.
Essa linha estética também é seguida na caracterização da caveira Cranicola e da Dona Morte.
A Dona Cegonha também aparece, em um caráter neutro quanto ao fofo/sombrio, mas como uma ave majestosa e gigante.
A história é puxada pelo casal – ainda não assumido nesta história – Penadinho e Alminha. O protagonista precisa lidar com dois problemas: um é a iminência da reencarnação de Alminha, situação trágica – afinal, isso representaria a “morte” ou eliminação dela do mundo dos mortos e do convívio com Penadinho – notificada por um aviso da Cegonha. Outro problema é que a fantasminha simplesmente… desaparece, bem enquanto seu quase amante está tentando se redimir pelas promessas não cumpridas.
Esse, aliás, é um tema forte aqui: o arrependimento. Que leitor não se identificaria com essa situação? Às vezes acontece de adiarmos fazer algo de bom a outra pessoa ou a nós mesmos, até ser tarde demais. No caso, Penadinho ressente-se por não ter cumprido os convites que fazia à Alminha… e por não admitir logo seu amor por ela.
A narrativa então parte para a aventura de descobrir aonde foi parar a fantasminha e resgatá-la. E aí se oferecem os companheiros de Penadinho para acompanhá-lo na jornada. O que lhes espera? Mistério, pistas e a demonstração de que o sumiço de Alminha representa na verdade uma parcela de um problema bem maior, recorrente e cheio de más intenções… Tudo parte de “gente” bem esquisita, querendo fazer apenas o seu “trabalho”.
Outras curiosidades divertidas são o uso de um tradicional cartaz “Trago a pessoa amada de volta”, que terá papel essencial na história; o encontro com várias criaturas bizarras e coloridas, lembrando as de Hayao Miyazaki em Viagem de Chihiro, num casarão igualmente mágico; e a participação especial de um certo fantasma baseado nos filmes de “Os Caça-Fantasmas”.
Uma releitura de personagens clássicos, uma história cativante, referências inusitadas… Por tudo isso Penadinho: Vida certamente deve ser lida – e não apenas pelos fãs da Turma da Mônica!
Nota: Interessante constatar que os leitores de um país majoritariamente católico e evangélico aceitaram tranquilamente as histórias do Penadinho ao longo de mais de 50 anos (desde 1963) nas quais se admite a reencarnação como “regra do jogo”, contrária à doutrina destas vertentes do cristianismo.

Primeira tirinha do Penadinho, de 1963,embora ele fosse ganhar o nome apenas no ano seguinte. Nela podemos vê-lo interagindo com o Cebolinha.
Por Maurício Kanno
Jornalista, mestrando em Estética e História da Arte pela USP, com pesquisa sobre os quadrinhos de Mauricio de Sousa. Publicou o romance “A Menina que Ouvia Demais”, alguns contos de fantasia e terror e produziu um tanto de pinturas espalhadas pelo Brasil e pelo mundo.
Essa HQ é um desserviço a quem acredita que quadrinho nacional não tem qualidade!
Olá theredshirts! Parabéns pelo texto! Bom ver Mauricio de Souza e suas releituras por aqui! Destaque para sua nota, ao final! De fato Penadinho, Anjinho, Piteco e Horácio conviveram muito bem e dividiram muitas cenas, embora cada um defendesse a sua causa na tentativa de explicar de onde viemos e para onde vamos. Obrigada pelo texto!