A Era de Ultron nas mãos de Brian Bendis (o Stan Lee rebootado) – mestre em costurar personagens diversos, equipes improváveis e versões alternativas – e Bryan Hitch – especialista em colocar toda essa loucura em páginas duplas épicas e em ângulos cinematográficos -, nos devolve a sensação nostálgica de sagas clássicas como a Era do Apocalipse e Dias de um Futuro Esquecido, só que agora com o (também clássico) futuro dominado pelas máquinas.
O aprofundamento e a solução da saga se ancoram na mesma premissa – viagem no tempo – essa solução maleável que abre a possibilidade de vermos os mesmos personagens modificados pelas circunstâncias, em alianças impensáveis, mortos e renascidos, e que parece ser a obsessão de Bendis para a Nova Marvel (pensem em o que ele fez nos Novíssimos X-Men).
De cara o mundo não é mais aquele que estamos acostumados. Ultron domina tudo e os heróis estão mortos, presos, caçados ou se escondem e resistem, forjando um plano para salvar a humanidade, viajando no tempo, para o passado e para o futuro, alterando a história e perdendo o controle da situação.
Wolverine é central na narrativa. O homem que não envelhece e engana o tempo se engana ao não medir as consequências de seus atos. Seu erro leva a mais problemas, distorções, rupturas e de novo a solução é se afundar no caos temporal e tentar mais uma vez mudar tudo. Nada fica impune e as consequências dessa bagunça serão sentidas em todo o Universo Marvel (cruzando o Universo Ultimate e o 2099 com o da Terra 616 e trazendo personagens de outras dimensões e até outras editoras – como Ângela de Neil Gaiman – para o colo dos Guardiões das Galaxias).
Mas o personagem principal da saga é Henry Pym. Conhecido por muitos nomes – Homem Formiga, Golias, Jaqueta Amarela – o cientista ficou marcado nos anos 1980 por bater na Vespa, então esposa dele. Esse passado macabro foi explorado outras vezes mantendo o personagem na linha tênue que separa os heróis dos vilões, até que a presente saga o redime. A viagem no tempo é uma forma de mostrar a importância do personagem e trazê-lo de volta ao time principal (será que o filme do Homem Formiga tem “uma certa” influência nisso?).
Parece que o tempo cura todas as feridas, pelo menos na Terra 616 as viagens no tempo são redentoras. Para personagens como esses, que se renovam e recomeçam a cada nova geração de leitores o tempo é o que os salva, mas para nós, meros mortais, uma coisa é certa: o tempo irreversivelmente nos escapa!
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