Como Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo inverte Star Wars

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Entenda como Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo inverte Star Wars.

Só leia esse texto se já tiver visto Star Wars – O Império Contra-Ataca e Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo. Você foi avisado.

O filme Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022), de Daniel Khan e Daniel Scheinert, é excepcional e fazer uma lista de suas qualidades torna-se supérfluo depois de passado tanto tempo de seu lançamento e aclamação tanto da crítica quanto do público.

Ainda assim vale ressaltar um aspecto de sua genialidade que talvez tenha passado despercebido: o modo como o filme inverte Star Wars.

Na clássica cena em que Darth Vader revela que é o pai de Luke Skywalker a sensação é de que uma maldição é proferida, a confirmação de algo que Luke sabia que era verdade em algum nível, mas não queria aceitar. Antes, em seu treinamento em Dagobah, o herói já havia entrevisto seu pior medo: tornar-se o próprio pai.

A busca pelo pai é um tema arquetípico que se repete em diversas mitologias. O encontro do pai é o encontro com o próprio caráter e o caráter é o destino do herói. Portanto, quando o herói procura pelo pai, simbolicamente está procurando pelo próprio destino. Isso não sou eu quem digo e sim Joseph Campbell, um dos maiores estudiosos de mitologia que já existiu.

E não só Campbell. É o próprio Freud quem diz que “o destino, em última instância, não passa de uma projeção tardia do pai”. No caso de Luke Skywalker e Darth Vader ainda temos um regime diurno de imagens que divide e separa, correspondendo à estrutura heroica do imaginário, ligada à imagens masculinas e figuras de poder como o rei, o pai, o guerreiro etc. Quem desenvolve essa reflexão é Gilbert Durand. É o conflito e o embate que se sobressai – e não poderia ser diferente em uma narrativa eminentemente masculina como é Star Wars.

Mas em Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo não é a busca e o conflito com o pai que está em jogo, não é o filho buscando e tentando redimir o pai, mas a trajetória de uma mãe que tenta redimir sua filha, inclusive com os papéis de protagonista (Luke, o filho e Evelyn, a mãe) e antagonista (Darth Vader, o pai e Jobu Tupaki, a filha) se invertendo.

No momento do clímax do filme não há revelação, mas há constatação ou lembrança: Evelyn é a mãe de Joy/Jobu Tupaki. Seguindo as proposições de Durand, o regime noturno da imagem aparece no abraço após a luta, não se trata mais de dividir, mas fundir e harmonizar, tanto no sentido de uma estrutura harmônica (a reconciliação entre mãe e filha) quanto sintética (propondo um novo começo).

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo é um daqueles filmes que não terminam quando os créditos sobem, mas perduram por muito tempo depois que as luzes do cinema acendem. Esse foi apenas um dos aspectos que me chamaram atenção em um filme que merece ser revisto, pois tenho certeza que revelará algo de novo a cada vez, criando um multiverso de interpretações.

Sobre Nerdbully

AKA Bruno Andreotti; Historiador e Mestre do Zen Nerdismo
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