Sobre a obra A Vida Oculta de Fernando Pessoa, de André F. Morgado e Alexandre Leoni.
Fernando Pessoa é o mais conhecido poeta português em solo brasileiro, um nome que ocasionalmente se escuta entre exposições, livrarias, reportagens, artigos, entre outros lugares que compartilham o gosto pelas letras. Diversos autores se inspiram ou falam de Pessoa como por exemplo o livro O Ano da Morte de Ricardo Reis de José Saramago, que cria uma ficção envolvendo a morte de um dos heterônimos mais famosos do poeta, e também A Vida Oculta de Fernando Pessoa escrito pelo português André F. Morgado, ilustrado pelo brasileiro Alexandre Leoni e publicado pela SESI-SP editora, obra que se apresenta como um divertido quadrinho e candidato a apresentar a obra de Pessoa a um novo público.
A Vida Oculta de Fernando Pessoa é uma ficção onde utilizam vida e obra ficcional de Pessoa para imaginar um mundo aonde o autor vá além de sua fama de luso-poeta. O protagonista recebe do pai, que está no leito de morte, uma carta e diz que os homens da família são membros de uma sociedade secreta, logo em seguida a história corta para Pessoa mais velho caçando e destruindo uma criatura que remete à um zumbi.
Fernando Pessoa caçando zumbis é o tipo de premissa que combina com o fragmentado poeta, que passou sua vida convivendo com seus vários heterônimos. Heterônimos são “personalidades” de Pessoa, seres que possuem local e data de nascimento, nome e toda uma vida independentes. Dos vários heterônimos criados os três mais famosos são citados: Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro.
A aparição de Ricardo Reis é uma das mais divertidas pela construção de diálogos utilizando alguns dos poemas do heterônimo.
Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Dentre tantos heterônimos e conflitos em sua própria cabeça, é bastante evidente a quantidade de zumbis dos quais Pessoa teve de lidar durante sua vida. Muito disso virou poesia, uma poesia que tenta passar a sensação e o sentimento de certas experiências humanas bastante universais, com seu domínio majestoso da língua portuguesa. Com este domínio, o autor pôde sacudir os zumbis e outros monstros de de sua cabeça e transformá-los em um relato que está além das letras e da língua, mas transmitem grandes sentimentos de um homem que viveu de tudo (ou quase) em sua imaginação.
A imaginação de Pessoa é citada como importante aspecto de sua personalidade e criação desde o texto introdutório do quadrinho. O poeta se envolveu desde a ciência até o ocultismo em uma busca bastante extensa para entender quem de fato é ele próprio, então imaginar o poeta caçando zumbis não é nem um pouco estranho, já que a realidade do poeta sempre foi a mais abrangente possível no campo de seus pensamentos e imaginação.
A Vida Oculta de Fernando Pessoa pode ser uma introdução bastante interessante por ilustrar a multifacetada cabeça do poeta português em uma aventura de sociedades secretas e zumbis. O quadrinho consegue ser divertido, ao mesmo tempo que distribui pílulas da obra acompanhado de fatos da sua vida, desta forma o quadrinho do português Morgado e do brasileiro Leoni é uma obra bastante original no cânone de histórias pessoanas.
Se você ainda não conhece a poesia de Pessoa, sem dúvida vale conhecer. Porém se a poesia te parece algo distante, o quadrinho consegue te aproximar do autor por meio de um mundo fantástico onde não envolve tantas rimas e métricas, mas emoções e seres extraordinários. Então em qualquer formato, dê uma chance ao maior perturbado das terras portuguesas!
Porquê não? No cinemas teve Abraham Lincoln, Caçador de vampiros.