A melhor hq nos Beatles?
Paul Está Morto é um quadrinho de Paolo Baron e Ernesto Carbonetti (aqui publicado pela Comix Zone) que brinca com a antiga lenda da suposta morte de Paul McCartney no auge dos Beatles. O primeiro pensamento que vem à cabeça ao ver esse título é “Vou comprar, afinal, tem Beatles”, já o segundo é “To sendo enganado pelo conteúdo mais idiota dos Beatles”, até que você decide consumir e ler, porque, afinal, é Beatles. Mas será que Beatles se trata disso? Consumo cego pela banda e uma indústria desesperada?
Camisas, canecas, vinis, cds, box especiais e quando possível um show do tal Beatle morto são consumidos por milhares de pessoas todos os dias. Porém, essa venda nasce não apenas de uma paixão pelas melodias que os Garotos de Liverpool criaram, mas de uma experiência emocional rica com cada álbum lançado.
No quadrinho somos apresentados aos Beatles lidando com o fato de que Paul McCartney morreu. O impacto sobre todos os membros sobreviventes e as dúvidas de cada um deles, em especial John Lennon, movimentam a trama para que o autor consiga apresentar sua visão sobre a obra da banda expondo o que ele crê ser o que os tornava especiais.
Na história duas possibilidades de final são apresentadas, porém vou me ater a apenas uma para falar sobre a visão do autor. Na história Paul McCartney tentou forjar a própria morte, pois está cansado da fama, dos prazos e da vida de Beatle. Logo em seguida temos uma cena psicodélica digna de Sgt Peppers e Magical Mistery Tour em que John Lennon quando reencontra Paul, lhe explica o real significado do trabalho do grupo. Momento que pela bela arte de Ernesto Carbonetti somos apresentados a um John morsa e a um Paul hipopótamo azul revisitando vários elementos da história deles. Vendo o submarino amarelo e todas as experiências sentimentais e sensoriais que a banda representa para milhões de pessoas.
O quadrinho brinca com uma teoria da conspiração, porém em muitos pontos se conecta com as histórias verídicas e significados intrínsecos nos discos e na história dos Beatles. As mensagens contidas na existência da banda, as narrativas e melodias estão todas ali presentes em um quadrinho que tenta mostrar o grupo como humano e sentimental, e não como a grande marca que transforma tudo em ouro.
Experienciar os Beatles é um mar de sensações e sentimentos. A melhor parte dessa HQ é que Paolo Baron e Ernesto Carbonetti entendem como isso funciona e transpõe parte da experiência em um quadrinho com uma das artes mais bonitas já vistas em uma HQ. Então assim como Paul se cansou de ser um Beatle, nós também temos receio de ver produtos pasteurizados da banda e precisamos de produtos com essa hq, que resgatam como no sonho de John e Paul o sentimento da banda.