Seria Os Incríveis uma releitura de Watchmen?
Depois de 14 anos do lançamento do primeiro filme, chegou aos cinemas Os Incríveis 2, com sucesso de crítica e público, e assim como em outras animações da Pixar isso é justificado pelo belo trabalho de roteiro, design, animação, etc. O público que assistiu ao filme durante a infância, reassistiu agora e viu a continuação pode ter se surpreendido ao perceber uma certa semelhança com algumas histórias famosas no mundo dos quadrinhos.
Uma delas é Watchmen. O desenho parece comportar-se de uma forma mais leve sob uma abordagem muito parecida com a da obra de Alan Moore e Dave Gibbons.
A semelhança entre as duas obras começa com a proibição da atuação dos super-heróis em ambos os universos. O motivo disto ter acontecido em Watchmen foi uma greve da polícia e insatisfação da população com os heróis mascarados. Na animação isso acontece quando o Senhor Incrível salva um homem do suicídio e é processado. O Estado acaba por ter que responder os processos e arcando com seus custos, decidindo proibir os heróis mascarados.
No universo de Watchmen Rorscharch continua atuando ilegalmente. O vigilantismo na obra de Moore é encarado como algo assustador e até sujo pela sociedade, inclusive pelos antigos heróis que revivem seus dias de glória em lembranças. Rorscharch mata, quebra dedos e assassina bandidos, enquanto o Senhor Incrível costuma escutar o rádio da polícia para encontrar perigos em que possa intervir seu amigo Gelado. O vigilantismo é visto como algo bom, uma ação altruísta dos personagens, salvando pessoas de incêndios e prédios, enquanto Rorscharch é tão sujo quanto as pessoas que ele caça nas ruas.
A história do vigilantismo continua em Os Incríveis 2. Os heróis ainda estão na ilegalidade e o vilão discute o valor do super-herói, o preço de entregar nossas vidas nas mãos de um desconhecido, devido a um incidente em que os super-heróis não foram capazes de salvar seu pai. No mundo de Watchmen um dos problemas levantados é justamente o direito dos heróis fazerem o que fazem.
Da mesma forma que a obra de Moore e Gibbons, Os Incríveis mostra super-heróis em suas vidas comuns. Seja o segundo Coruja que passava seus dias visitando seu antecessor e relembrando o passado ou o Senhor Incrível com sua pequena sala cheia de manchetes sobre seus dias de glória e seu emprego chato que lhe consome diariamente.
Fica muito claro que a animação faz brincadeiras com os quadrinhos de heróis e tem referências à história Watchmen, porém sob uma visão otimista, já que também é vendida para um público mais jovem.
Pessoalmente não fui uma criança apaixonada por super-heróis, porém Os Incríveis me apresentou uma trama envolvente e plausível o suficiente para que eu finalmente aceitasse os super-heróis em minha vida.
Ambas as tramas fazem sua parte na contribuição para o universo dos super-heróis. Enquanto Watchmen faz isso de uma forma sombria, densa e assustadora, Os Incríveis consegue fazer uma releitura, discutindo muitos de seus conceitos e divertindo pessoas de todas as idades através do mundo.
Essas obras estão muito próximas e em uma coisa elas concordam igualmente: nada de capas! Tanto Dollar Bill, quanto o Homem Trovão souberam na prática o que elas podem causar.