Por que A Era Espacial não foi um marco para o Superman

Boas ideias e uma oportunidade perdida na aclamada hq Superman: A Era Espacial.

Superman: A Era Espacial, com roteiro de Mark Russell, desenhos de Michael Allred e cores de Laura Allred, explora o mito do Homem de Aço em uma linha temporal alternativa que abraça o conceito de multiverso tão caro à DC Comics. Ambientada em uma das “Terras” anteriores à famosa Crise nas Infinitas Terras, a história parte da premissa de que a Terra paralela que acompanhamos está destinada a desaparecer com a chegada do Anti-Monitor, vilão da Crise, marcando um ciclo de destruição e renascimento característico da editora. Esse pano de fundo, no entanto, pode ser mais claro para leitores com familiaridade prévia com o complexo histórico da DC, onde frequentes crises remodelam e reiniciam o universo da editora, muitas vezes de maneira confusa e inconsistente.

Sem spoilers, embora a narrativa flerte com a ideia de um destino inevitável para essa Terra, o desfecho traz uma solução que ignora o marco estabelecido pela Crise nas Infinitas Terras. Isso acaba por criar uma sensação de desconexão para quem esperava uma integração maior com a cronologia mais ampla da DC.

A obra poderia ter seu ponto alto ao conectar Superman à história dos Estados Unidos, mas não é o que acontece. Mark Russell introduz Jonathan Kent, pai terrestre do Superman, como um veterano da Segunda Guerra Mundial e incorpora o contexto da Guerra Fria com uma trégua antecipada entre Estados Unidos e União Soviética nos anos 1960. Uma mudança significativa cujos desdobramentos não são mostrados.

O mesmo ocorre com o esândalo de Watergate, com bastante tempo na trama, que poderia ter dado maior profundidade à narrativa, mas suas implicações são nulas. O autor também deixa de explorar as transformações sociais da época, como os movimentos pelos direitos civis dos negros, gays e o movimento feminista, temas que marcaram a Era de Bronze dos quadrinhos​.

A questão não é que seja obrigatório menção a esses acontecimentos históricos, mas mesmo a sua ausência poderia ser trabalhada e ter uma função narrativa, como foi no filme Superman de 1978. O Superman de Richard Donner pôde ser um patriota e otimista justamente porque nos conturbados anos 60 e 70 dos Estados Unidos estava em sua Fortaleza da Solidão, o que o torna interessante e consistente.

Outro ponto discutível é a inclusão da linha narrativa do Batman, que, com sua intensidade e complexidade próprias, soa mais como uma história paralela que merecia uma minissérie própria – tanto que há um spin-off contando a história de origem do Batman desse universo, Batman: The Dark Age, com a mesma equipe criativa. Mas em A Era Espacial, essa sobreposição com o arco de Superman acaba por comprometer o ritmo da narrativa, diluindo o impacto emocional e o foco principal da história.

A HQ foi indicada ao prêmio Eisner de Melhor Minissérie em 2023, um reconhecimento de prestígio que evidencia certa qualidade da obra e sua recepção positiva entre muitos leitores. Mas fica a sensação de uma boa oportunidade perdida. Mark Russell poderia ter explorado o potencial para uma reflexão profunda e duradoura sobre o Superman, especialmente em meio ao contexto histórico dos Estados Unidos e à complexidade do multiverso da DC. Perdeu merecidamente o Eisner para O Alvo Humano, de Tom King.

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AKA Bruno Andreotti; Historiador e Mestre do Zen Nerdismo
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