
São 4h20! Tá na hora de por fogo na Babilônia e fazer uma lista de HQs canábicas!
Recentemente a máxima corte do Brasil se debruçou sobre a legislação que separa usuários e traficantes de maconha. Alguns ministros argumentaram que a guerra às drogas, que já dura décadas no mundo todo, não surte o efeito proposto, e que outros problemas sociais profundos, como o racismo e a violência policial, são explicitados e até potencializados por essa política. De fato, a história da proibição da maconha, que é cheia de negacionismo científico, moralismo religioso, xenofobia e racismo, estabeleceu uma ideia negativa sobre o consumo de erva (que não existe no caso do consumo de álcool, por exemplo). Mas os quadrinhos estão fazendo a sua parte pra mudar esse paradigma. Segue uma lista de produções mais ou menos recentes sobre o tema:
1 – Cannabis – A Ilegalização da Maconha nos Estados Unidos (Box Brown)

No estilo quadrinho-documentário, Box Brown (já falamos dele aqui) conta a tragetória da erva, desde as primeiras civilizações, mostrando a relação da maconha com práticas religiosas e comunitárias tradicionais em diferentes tempos e lugares na história humana, até chegar ao proibicionismo político-midiático nos EUA na primeira metade do século XX. Nas páginas do quadrinho o autor reproduz as peças de propaganda que associavam o uso da maconha com a depravação sexual, a preguiça em relação ao trabalho e ao comportamento violênto e criminoso, sempre atribuídos à população negra e aos imigrantes mexicanos. Foi essa política de criminalização que se espalhou pelo mundo e consolidou a ideia de que a maconha é porta de entrada para drogas mais pesadas, embora um número extenso de pesquisas científicas refutem essa ideia. É o quadrinho mais completo sobre a história da nossa relação com a maconha em todos os seus aspectos. A publicação em português saiu pela editora Mino.
2 – Diamba: Histórias do Proibicionismo no Brasil (Daniel Paiva)

O cartunista Daniel Paiva apresenta várias histórias que se passam em tempos e lugares diferentes, sempre mostrando a repressão aos usuários de maconha. O fio condutor das várias histórias é um jovem negro, preso por usar um boné com a folha da cannabis estampada (apologia). Paiva mostra um pouco da história da erva, da China antiga à colonização das Américas, passando por letras de músicas de Bezerra da Silva, O Rappa, Planet Hemp, até casos pontuais com personagens como Rita Lee, Gilberto Gil e Francisco Benedito de Souza (este último é o protagonista do caso que chegou ao STF e motivou a ação que está em discussão neste momento).
3 – Beto e Dé / Boldinho (Daniel Paiva) e Capitão Presença (Arnaldo Branco)

As tiras do Beto e Dé saíram da revista independente Tarja Preta, que foi distribuída entre 2004 e 2011. Na mesma revista havia outros personagens ligados ao tema, como Boldinho (uma paródia do Cebolinha da Turma da Mônica, criado pelo Daniel Paiva) e Capitão Presença (do cartunista Arnaldo Branco). A Editora Conrad publicou um compilado do Capitão Presença em 2006, e em 2020, Paiva compilou as tiras do Beto e Dé numa edição (que tem na loja da Ugra Press). As histórias de humor falam dos hábitos e da linguagem de personagens que passam o dia todo fumando maconha.
Pouco depois do lançamento do compilado, Daniel Paiva recebeu uma notificação extrajudicial da Maurício de Sousa Produções para retirar o personagem Boldinho de todas as plataformas. Como a pressão econômica é desigual, mesmo havendo base para contestação (já que era uma paródia), o jeito foi acatar a ação. Além de tirar as histórias de sites como o maryjuana.com.br, Daniel recortou página por página o rosto do personagem e fez anotações em cada edição. Já falamos aqui sobre a visão de mundo da família que administra a MSP. Não passarão! @freeboldinho
4 – Moluscontos – Uma Aventura Cannabica (Ulisses Oliveira e Leandro Assis)

O ex-publicitário Ulisses Oliveira tinha um blog onde escrevia sobre as desventuras de sua juventude, repletas de sardola (maconha), sexo e música. Cansado de escrever, ele vestiu uma máscara amarela e verde de luta livre mexicana, assumiu a identidade de Molusco e começou a contar as histórias em vídeo. O conteúdo viralizou e 10 anos depois ele lançou o livro Moluscontos, com 20 dessas histórias e uma HQ de 16 páginas ilustrada por Leandro Assis (que também fez os webcomics Confinadas e Os Santos).
Imagino que devam existir outras publicações brasileiras, independentes ou não, que abordem a marijuana e a cultura canábica. Quem souber e tiver link para o material, deixa aqui nos comentários desse texto que eu vou atualizando a lista. Agora é arriar essa lombra que a larica vai bater pesado!





opa, ali na livraria /cafeteria BRASA, na Cidade Baixa, em Porto Alegre -RS tem algumas destas e outras opções muito bacanas, vale a pena conferir.