Não dá pra escapar do seu ambiente cultural!
Alguns dos mais famosos e citados quadrinistas aqui nos Quadrinheiros são britânicos: Alan Moore, Grant Morrison, Neil Gaiman, Garth Ennis etc. e são obviamente influenciados por seu ambiente cultural, ambiente que recentemente sofreu grandes mudanças com a perda de sua rainha, Elizabeth II e seu legado: colonialismo e exploração. A coroa britânica exerce uma influência quase central sobre a temática das obras dos autores que nasceram no território, pois até mesmo nas mais viajadas ficções percebemos suas críticas e opiniões em relação à existência da família real.
São inúmeras as alusões à monarquia nas narrativas, por isso citaremos três histórias famosas onde grandes quadrinistas britânicos emitem opiniões e impressões sobre sua realeza.
Do Inferno – Alan Moore e Eddie Campbell
Este quadrinho parte da história de Jack, O Estripador, uma quase lenda inglesa que envolve assassinatos misteriosos de prostitutas no século XIX. A história nunca foi inteiramente esclarecida, permitindo com que o autor, a partir de suas fontes, informações e teorias possa amarrar elementos da história da realeza com o assassino. A trama em certo momento se mistura e torna a conspiração grandiosa justamente pelo envolvimento da realeza, proporções que para o contexto cultural britânico poderiam causar um escândalo sem precedentes na história do país.

Hellblazer: Sangue Real – Garth Ennis e William Simpson
Aqui novamente parte-se da lenda do Jack, O Estripado revivida por outro autor britânico, porém neste caso o foco é a realeza, diferente do quadrinho de Alan Moore, que centra-se no assassino. Garth Ennis é conhecido por ser um autor ácido, tanto em violência gráfica quanto em suas críticas. Aqui não é diferente e o autor expõe uma posição bastante contrária à existência da família real. Ennis utiliza-se da imagem de demônios para associar a família real ao pior pesadelo do povo britânico, ele não economiza em críticas e se equipara à juventude dos Sex Pistols em God Save The Queen. Constantine nessa história deixa claro que nenhum demônio poderia sugar a vida do povo como faz a família real esbanjando luxo enquanto parte do povo morre de fome.
Marvel 1602
Neil Gaiman reimagina os heróis da Marvel no início do século XVII à serviço da família real britânica, mesclando personalidades históricas e os personagens da Marvel de maneira bastante inventiva. Demonstrando que o autor de fato tinha um domínio sobre o período, tanto com os fatos principais quanto com curiosidades da história inglesa.
Apoiando ou não, os autores britânicos estão sempre sob a influência da existência da realeza, seja por meio de alusões positivas ou críticas bastante cruas como as de Ennis. Ou seja, as mudanças no palácio de Buckingham afetarão o pensamento e a produção dos quadrinistas britânicos nos próximos anos. Resta saber se virá alguma conciliação ou apenas mais críticas ácidas e teorias da conspiração que divertem os leitores.