Conheça o trabalho premiado do pesquisador Gelson Weschenfelder sobre o uso de super-heróis em sala de aula como tutores de resiliência.
O colecionador, leitor aficcionado e fã dedicado de histórias em quadrinho de super-heróis há de convir que essas narrativas nos afetam profundamente. As histórias, especialmente aquelas que lemos na infância e adolescência, são balizas que nos ajudam a navegar pela vida. Elas criam a sensação de pertencimento, despertam o senso de justiça e até indicam um sentido existencial. Mas nossas próprias dores e traumas podem nos fechar para esse convite que as narrativas ficcionais oferecem. Podem inclusive enviesar nossa leitura, nos levando ao isolamento, à sensação de injustiça e até de esvaziamento de sentido.
O pesquisador Gelson Weschenfelder, também conhecido como o Filósofo dos Quadrinhos, já publicou muitos trabalhos acadêmicos sobre filosofia e educação sempre partindo da cultura pop (alguns de seus livros fazem paralelos entre o pensamento de Aristóteles sobre o bem e a felicidade com personagens como os X-Men, o Batman e o Homem-Aranha). Ele mesmo um colecionador, leitor aficcionado e fã dedicado das histórias em quadrinho de super-heróis, percebendo a influêcia positiva e negativa que as narrativas podem ter em crianças e jovens, mergulhou no tema do trauma e da resiliência para usar as narrativas como uma ferramenta de superação.
No livro Homens de Aço? Os Super-heróis como Tutores de Resiliência que é resultado do doutorado que ganhou o prêmio Jovem Cientista do CNPq em 2018, Gelson parte da fase pré-superpotência dos heróis. Muitas das histórias de origem seguem um roteiro de exposição ao risco e à violência, trauma e superação. Centrar o olhar na morte dos pais de Bruce Wayne, no assassinato do tio Ben, na extinção do planeta Krypton, ao invés de focar na sensação de empoderamento que o ser superpoderoso inspira, foi a estratégia usada na intervenção que a pesquisa fez com estudantes das séries finais do ensino fundamental.
Os alunos, ao longo dos encontros, foram capazes de identificar e abstrair os conceitos de risco, adversidade e ponto de virada nas narrativas, além de compreender que o heroísmo está associado à práticas de cuidado (autocuidado e cuidado com o outro), responsabilidade, entre outras competências socioemocionais.
Um dos pontos altos que se desdobraram a partir dessa pesquisa foi a produção de uma narrativa em quadrinhos – Roteiros de Vida – que mostrava a história de vida de algus dos participantes da pesquisa, específicamente a sequência de exposição ao risco e à violência, trauma e superação. A emoção daqueles que compreenderam o processo de formação dos super-heróis, que fizeram um paralelo entre esse processo e a suas próprias vidas, e viram suas histórias se transformarem em páginas de uma história em quadrinhos, foi bastante terapêutico (com roteiro de Gelson Weschenfelder e desenhos de Jader Corrêa).
Nesse contexto de escolas parcialmente fechadas por causa da pandemia, recursos como o uso da cultura pop para cativar os alunos é algo precioso. A abordagem terapêutica proposta pelo pesquisador é uma excelente sugestão para atividades de acolhimento. Atualmente ele mantêm um blog pra falar sobre o uso de histórias em quadrinhos em sala de aula, que vale conhecer. Nós já tivemos a honra de contar com um capítulo sobre implicações éticas e políticas dos personagens Rorschach e Ozymandias de Watchmen no livro Super-heróis e política.
E agora em agosto, no dia 20 (sexta), às 9h00, Gelson Weschenfelder, Renato Ferreira Machado, e eu e Bruno Andreotti (o Nerdublly aqui dos Quadrinheiros), vamos participar de uma mesa virtual gratuita, falando específicamente sobre Super-heróis como Tutores de Resiliência em Crianças e Adolescentes em Situação de Risco. É um evento da Faculdade Dom Bosco (FDB) e do Instituto Salesiano de Pesquisa sobre a Criança e o Adolescente (INSAPECA) – IX Ciranda da Criança e do Adolescente.
As inscrições podem ser feitas AQUI. Continuamos essa conversa lá!