Já falamos aqui das histórias que não devem ser esquecidas. Histórias boas, muitas vezes obscuras, mas que por algum motivo marcaram o suficiente para serem lembradas e permanecerem em nossas estantes. Mas hoje gostaria de falar de um outro tipo de história, aquelas, ao contrário, que não nos deixam esquecer.
Sim, elas existem. Histórias de qualidade duvidosa – ou ruins mesmo – que mereceriam sem dúvida ser esquecidas, mas que ficaram famosas, são continuamente citadas, publicadas e republicadas, muitas vezes com edições de luxo, capa dura, com um projeto editorial impecável que drenam nossos parcos recursos.
Da DC cito dois casos apenas: A Queda do Morcego e A Morte do Superman.
A Queda do Morcego partiu de uma premissa interessante: como seria um adversário que realmente derrotasse o Batman em todos os níveis. Mas o modo como aconteceu deixou um tanto a desejar: Bane foi um vilão um bocado insosso (apesar da imagem emblemática do vilão literalmente quebrando o Batman), bem como a escolha de Jean Paul Valley como o sucessor do Cavaleiro das Trevas (comentada aqui). Apesar disso foi também reeditada recentemente (até que com um preço mais acessível), mas não teve o sucesso de vendas esperado, visto que o primeiro encadernado saiu em 2008 e até agora nada do segundo. E isso mesmo com sucesso do último filme de trilogia do Nolan que fez uma espécie de releitura da saga.
A Morte do Superman também foi mais um estardalhaço midiático que uma boa história. Um novo vilão foi especialmente criado para a tarefa: Apocalypse. Uma batalha sem sentido nenhum nas ruas de Metrópolis e o Homem do Amanhã estava morto. Simples assim. Sem sentido assim. Mal o corpo do herói esfriou e já havia quatro candidatos para tomar seu lugar (Aço, Erradicador, Superboy e o Superciborgue). Óbvio que essa “morte” não seria duradoura e mais ou menos um ano depois o Super já estava de volta. Uma história no máximo mediana que já teve seu encadernado de luxo lançado por aqui e até uma animação.
Enquanto essas séries são constantemente comentadas e republicadas, arcos melhores como Terra de Ninguém do Batman e a fase de John Byrne do Superman permanecem solenemente “esquecidos” e disputados nos sebos da vida.
Para falarmos da Marvel temos na coleção de graphic novels da Marvel publicada pela Salvate obras-primas como Os Supremos vol.1, arcos excelentes dos X-Men por Grant Morison e por Joss Whedon e o realmente clássico Marvels, mas também coisas extremamente esquecíveis e de qualidade um tanto duvidosa como Demolidor – Diabo da Guarda e Homem-Aranha: de volta ao lar. Por 30 reais o encadernado acho um preço bem razoável, mas você vai ter comprar a parte ruim se quiser ter a coleção completa.
Outro exemplo: havia um tempo em que as únicas edições de V de Vingança e Watchmen disponíveis por aqui eram as da Via Lettera, edições sem o mínimo de cuidado editorial e preços exorbitantes, mas as únicas disponíveis – tirando as primeiras edições lançadas pela Globo e Abril respectivamente. Foi preciso que as adaptações dessas HQs fossem pro cinema para que a Panini relançasse essas obras em edições que fazem jus à sua qualidade.
E também os ótimos Transmetropolitan e Os Invisíveis, que tiveram edições pioneiras pela Brainstore e depois relegados ao limbo para só recentemente serem republicados – e mesmo assim nada garante que chegarão ao fim: nunca sabemos ao certo quando as edições serão canceladas descontinuadas, a exemplo da fase da Liga da Justiça do Grant Morison (e tantas outras), enquanto que histórias relativamente recentes já tiveram suas edições caça-níqueis de luxo lançadas.
E Akira então? Quando teremos uma nova edição da obra prima de Katsuhiro Otomo?
E o que dizer de releituras interessantes sobre o universo dos supers como Imperdoável e The Boys, lançados pela Devir, mas que dificilmente terão sua publicação completa?
Grandes sucessos de vendas que resultam em histórias que são constantemente lembradas, comentadas e reeditadas nem sempre têm a ver com a qualidade da história em si. Muitas vezes são apenas o resultado de boa propaganda. Infelizmente aqui ficamos refém desse mercado pouco consolidado (afinal, nenhuma editora faz caridade). Cabe a nós leitores estarmos atentos para não levar gato por lebre e também pressionar esse mercado por mais qualidade. O que me lembra uma conversa que tive com meu mestre quando iniciei o caminho do zen-nerdismo, que divido agora com vocês:
– Mestre, como trilhar o caminho do zen-nerdismo?
– Lendo boas histórias.
– Como reconhecer boas histórias, mestre?
– Lendo histórias ruins, padawan.
Aprendi a lição. Mas não preciso ler as histórias ruins duas vezes. Só gostaria que as boas fossem mais acessíveis.
Talvez a trilogia Nolan do Batman não tenha ajudado a vender edições d’A Queda do Morcego porque justamente o filme que faz referência a ela seja muito ruim, um dos piores roteiros de filme super-heróis já rodados.
Bom, no limite gosto é gosto, mas eu particularmente gosto bastante de todos os filmes do Nolan do Batman e acho que as falhas são perdoáveis perto do conjunto da obra.
Gostei muito do texto, concordo com a questão das sagas da queda do Morcego e Morte do Super, foi uma tentativa desesperada para alavancas vendas num período de baixa… Mas quanto ao Diabo da guarda, eu acho uma das melhores histórias do Demolidor….
O Diabo da Guarda fica bom se você ler ele primeiro e depois a fase do Frank Miller. Como li primeiro a do Miller fica muito óbvio o plágio/homenagem. É tudo muito igual. Mas realmente, se você pegar tudo o que já fizeram com o Demolidor, esse arco não é de todo ruim.
Não considero ruim, mas entra em uma classificação que faço para histórias em quadrinhos: existem histórias ruins, outras regulares, algumas boas/excelentes (caso de diabo da guarda e fase do bendis) e poucos clássicos (caso das histórias do Miller).
Ainda espero a Panini terminar de lançar os encadernados de Preacher… A continuidade de Imperdoável e The Boys é meu maior sonho!
Muito Boa Matéria… Parabéns…
Obrigado! Volte sempre! 😉