
Geralmente não falamos de coisas pessoais aqui. Abriremos uma exceção hoje porque certos acontecimentos merecem comemoração.
Não é todo o dia que um quadrinheiro se casa.

Sim, amigos, nosso caro companheiro de militância nerditária, o Picareta Psíquico, foi devidamente amarrado pelos laços sagrados/espirituais/simbólicos/sociais/cósmicos/mágicos (escolha entre essas ou quaisquer outras opções que você queira, desde que venham carregadas de boas intenções) do matrimônio. Nós, é claro, marcamos presença e temos fotografia para provar. (Ok, essa não é a foto, mas realmente estávamos lá, comemos e bebemos com moderação, não fizemos o noivo passar vergonha por ser nosso amigo e tiramos fotos com o casal. Você pode ou não acreditar na minha palavra).
Não somos um blog de fofocas. Portanto, não vamos ficar comentando quem foi, quem não foi, quem devia ter ido, quem não devia, que roupa usavam, com quem chegaram, com quem saíram, quanto beberam, até porque passamos a maior parte do evento no cantinho nerd da festa (literalmente no canto da sala), sem nos interessarmos muito pelo que acontecia em volta.

Papo vai, papo vem, entramos numa rápida busca mental de casamentos importantes no mundo dos quadrinhos, sem discutir muito o conteúdo. E concluímos que essa seria uma boa maneira de homenagear nosso querido companheiro e a agora senhora Picareta Psíquica (até arranjarmos apelido melhor). (Deixo bem claro que compramos presentes. O
post é apenas uma maneira a mais de demonstrar nosso apreço pelo casal).
A lista a seguir não é sobre as melhores histórias de casamento (como cerimônia) — a maioria dessas histórias é bem ruim, convenhamos — nem dos casamentos (como relacionamentos) mais duradouros ou cuja trajetória foi mais importante para o universo dos quadrinhos. É simplesmente uma lista do que queremos e do que não queremos para o casal de Picaretas.
* * *
Mary Jane e Peter Parker

Foram felizes durante anos, enfrentaram juntos situações difíceis (tanto na vida civil quanto na vida secreta), pareciam um casal inabalável. Mas
um editor de m… a absurda insistência de
Peter em não crescer (talvez ele devesse trocar o uniforme vermelho e azul por um verde, como o outro
Peter que também não queria ser adulto) fez com que ele abrisse mão do casamento para ter de volta a tia/mãe. Mortes, entre outras desgraças de várias proporções, fazem parte da vida e precisamos aprender a lidar com isso. Você pode colocar a culpa na
estupidez do editor sagacidade de
Mefisto, mas é indiscutível que
Peter não entendeu o que significava seu casamento.
Mary Jane não poderia substituir
Tia May como figura materna, mas em incontáveis momentos tinha provado sua disposição e maturidade para ser o refúgio e suporte emocional que
Peter necessitava para tocar a carreira heróica. A triste verdade é que
Mary Jane vivia um casamento, enquanto
Peter brincava de casinha.

Sue e Reed Richards

Quando se fala em casamentos de HQ, eles provavelmente são o primeiro casal que vem à mente de qualquer quadrinhófilo. Faz sentido. Estão casados desde os anos 60, têm filhos, são a espinha dorsal da primeira família heróica publicamente reconhecida, têm crises, fazem as pazes… Considero as crises o elemento mais importante da vida conjugal do
Casal Fantástico. Os poderes de
Sue e
Reed não são complementares e são raros os momentos em que os dois precisam agir em sincronia para vencer um desafio. Na vida cotidiana, as diferenças entre os dois são ainda mais gritantes. Elas fazem com que eles briguem, se separem por um tempo, até lutem em lados diferentes. O importante na relação entre
Sue e
Reed é que eles não se anulam para agradar ao outro. Seu casamento é um constante esforço de construir uma vida juntos, sem que as individualidades se percam. O choque dessas individualidades volta-e-meia produz crises que, para nós, observadores externos, parecem ser o começo do divórcio. Mas, passado o calor do momento, eles conversam, reconhecem erros e acertos, cedem no que é possível, fincam o pé no que é inegociável, se comprometem.
Sue e
Reed têm um casamento sólido porque as crises não surgem para separá-los, mas porque eles querem ficar juntos.

Apolo e Meia-Noite

Eles não estão em nossa lista porque queremos parecer modernos ou polêmicos. Cada um deles tem poder suficiente para destruir o planeta inteiro. Mais de uma vez.
(Apolo certamente seria mais rápido). Juntos, não há limites para o que eles podem fazer. Se existem duas personagens que parecem preencher todos os requisitos da auto-suficiência são
Apolo e
Meia-Noite. Mas eles não são auto-suficientes. Muito pelo contrário, ao longo da série
Authority (pré-
reboot, já que não sei como andam as coisas agora), vemos como eles partilham de uma confiança mútua baseada no reconhecimento da própria fragilidade diante do outro e na certeza de que essa fragilidade não vai ser explorada pelo outro. Eles podem parecer deuses para o resto da humanidade, mas sabem-se totalmente humanos em sua relação. Se não há vergonha em admitir a fraqueza, muito menos há necessidade de se auto-pronunciar as virtudes.
Apolo e
Meia-Noite têm, portanto, um relacionamento maduro, baseado no auto-conhecimento e no conhecimento do outro, em que ninguém é auto-suficiente, mas também não são dependentes. São cúmplices.

Lírio Branco (Lilyth) e Tex Willer

Um dos mais antigos casais inter-raciais do mundo dos quadrinhos, se não for o mais antigo. É verdade que o casamento deles não foi exatamente romântico e também não durou muito tempo (ela morreu cedo), mas foi fundamental para consolidar o papel de
Tex Willer como defensor da causa indígena (embora ele mesmo tenha matado um monte — mas ele nunca fez distinção de cor, para bem ou para mal). Esse casamento salvou sua vida, é verdade, mas também trouxe um bom número de dificuldades.
Tex teve que enfrentar a inimizade dos guerreiros navajos que desejavam se casar com a filha de
Flecha Vermelha, a fim de sucedê-lo na posição de grande chefe. Mas seu maior problema é com os brancos, que o tratam como renegado e não perdem oportunidade de colocá-lo em descrédito por viver entre os índios. Mesmo que não estivessem romanticamente envolvidos no princípio,
Lilyth e
Tex entenderam que seu casamento representava uma possibilidade real de pacificação. Mais importante, eles não se inclinaram às conveniências, mesmo quando houve oportunidade. Para eles, não interessava o que brancos e índios pensavam sobre seu relacionamento, mas, sim, o que eles estavam construindo juntos: o melhor dos dois mundos, simbolizado pelo filho
Kit ou
Falcão Pequeno. É um bom casamento porque não traz benefício apenas ao casal, mas a todas as pessoas em volta.

Mônica e Cebolinha

Eles cresceram juntos e seguiram a tradicional fórmula do “isso ainda vai dar em casamento”. O casamento deles acabou de acontecer e não sabemos ainda no que vai dar, mas ninguém duvida que eles serão mesmo um casal no clássico modelo “até que a morte os separe” (ou seja, nunca). Eles fogem do padrão da lista porque não têm uma longa vida de casados, mas têm um relacionamento muito mais longo do que muitos casamentos por aí. A maioria dos leitores acredita que o fundamento dessa longevidade está no estilo “entre tapas e beijos”. Isso pode até ser importante em alguns momentos, mas, quando analisamos o modo como essa relação foi construída nesses 50 anos (os monicólatras sabem que isso não é coisa só da linha
Turma da Mônica Jovem), fica muito claro que um dos pilares da relação de
Mônica e
Cebolinha é o apoio dos amigos.
Cascão,
Magali e toda a turma se alternam nos papéis de confidentes e consciências, escutam o que não precisam e dizem o que acreditam ser necessário.
Mônica e
Cebolinha não se isolaram do mundo em seu relacionamento. Em vez disso, esse relacionamento permitiu que alcançassem um grau maior de intimidade com os outros amigos, que sabem o momento de interferir e o de deixar os dois resolverem sozinhos suas questões.

* * *
Ao senhor e senhora Picaretas, nossos sinceros votos de felicidade nessa aventura que não cabe no gibi!
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Faltou Fantasma e Diana Palmer.
Ciclope e Jean Grey (tremenda cerimônia com convite e tudo mais). Durou até que a morte os separou.
Concordo, faltou Ciclope e Jean Grey, com aquele cabelo horroro… moderno para a época rs. Ah, eu odeio o Joe Quesada e parabéns pelo casamento, Picareta Psíquico 😀
Faltou Donna Troy e Terry Long. Felicidades ao casal.