Como Larry Hama e Marc Silvestri mostraram a essência de Wolverine em uma única edição impecável?
Se existe uma arte perdida nos quadrinhos de super-heróis atuais é a capacidade de contar uma história completa e impactante em uma única edição. The Hunter in the Darkness ou O Caçador das Trevas, publicada em Wolverine #34 (1990), por aqui publicada pela primeria vez em Wolverine #28 (1994), ainda pela Abril Jovem, quando éramos felizes e não sabíamos, recentemente de volta em A Saga do Wolverine #1, exemplifica como um filler pode ser mais do que um simples interlúdio na continuidade. Escrita por Larry Hama e ilustrada pelo talentoso Marc Silvestri, essa história encapsula o melhor do personagem sem depender de sagas grandiosas ou eventos mirabolantes.
A narrativa se desenrola nos bosques canadenses, onde Wolverine se vê envolvido na perseguição a uma criatura lendária, o chamado “Caçador das Trevas”. Esse ser misterioso ecoa a própria jornada de Logan, simbolizando sua luta entre a humanidade e a selvageria. A história não precisa de diálogos excessivos para transmitir sua força; Hama usa palavras com precisão cirúrgica, enquanto Silvestri reforça a atmosfera sombria e contemplativa com sua arte dinâmica e expressiva.
Além do embate central, a edição traz figuras secundárias que enriquecem o enredo. Policiais da região, tentando lidar com os ataques da criatura, fornecem um contraponto à visão pragmática de Logan, destacando sua experiência e instinto aguçado. O passado de Wolverine também emerge na trama, com referências ao seu tempo como soldado e experimentos que moldaram sua existência. Esse subtexto adiciona camadas ao conflito, tornando-o mais do que uma simples luta contra um monstro, ainda mais levando em conta que o passado do personagem ainda era cercado de mistério (Weapon X ou Arma X só seria publicada em 1991, e Wolverine: Origin, ou Wolverine: Origem, em 2001).
Em 1990, Wolverine já havia se consolidado como um dos personagens mais populares dos X-Men, quiçá da Marvel, e sua série solo, sob o comando de Larry Hama, que assumiu o título na edição 31, alcançava um novo patamar. Hama redefiniu o mutante com um equilíbrio entre ação visceral e reflexões introspectivas, destacando sua complexidade além da imagem de um brutamontes invulnerável. Silvestri, por sua vez, era um dos grandes artistas da época, elevando a dramaticidade visual das histórias com sua narrativa fluida e composições marcantes.
O período também marcou o auge da franquia dos X-Men, com Chris Claremont expandindo a mitologia mutante e Jim Lee ditando a nova estética da equipe. Apesar disso, Wolverine mantinha uma identidade própria, permitindo que edições como essa funcionassem de forma independente. O Caçador das Trevas é um exemplo perfeito desse período criativo, onde uma única edição podia capturar a essência de um personagem sem precisar de anos de continuidade para fazer sentido.
Atualmente, histórias “filler” são frequentemente vistas como desnecessárias ou irrelevantes – e na maioria das vezes são apenas isso mesmo. No entanto, O Caçador das Trevas prova que um filler bem construído pode ser uma aula de narrativa. Sem precisar de ganchos para futuras edições ou conexões com tramas maiores, a história se sustenta por si só, explorando Wolverine em sua forma mais pura. Sua brutalidade, seu senso de honra e sua relação com o lado mais primitivo da natureza estão presentes em cada quadro.
Para quem busca uma história autossuficiente e que sintetiza as principais características do personagem, essa edição é essencial. É a prova de que nem toda grande história precisa de sagas épicas; às vezes, o que realmente importa é um roteirista inspirado, um artista talentoso e uma ideia executada com maestria.








