Obrigado, Ziraldo

Quadrinheiros e convidados enlutados falam sobre o impacto do Mestre em suas vidas e no mundo.

Maurício Zanolini, O Picareta Psíquico

Eu já conhecia o traço do Ziraldo antes de saber quem ele era. Mas só tive a dimensão da importância dele pra imprensa e pra história gráfica do Brasil em 1999 quando ele lançou a revista Bundas (pela editora Pererê). Era um tablóide que fazia um contraponto crítico à ostentação de famosos que apareciam na revista Caras (além da crítica política e econômica ao governo de Fernando Henrique Cardoso). Na definição do próprio Ziraldo: “Quem coloca a bunda em Caras não coloca a cara em Bundas”.

Foi pela Bundas que eu descobri o Pasquim (muitos dos colaboradores do lendário tablóide que combatia a ditadura militar estavam de volta na nova revista). E também foi nas páginas de Bundas que eu li pela primeira vez um jornalismo crítico, sarcástico e combativo. A Bundas durou apenas um ano por causa de problemas financeiros (nas últimas edições Ziraldo dizia: “Por que os anunciantes estão deixando a Bundas de fora?”. A escrita anárquica aliada a um traço elegante e limpo são as marcas desse grande brasileiro.

Adriano Marangoni, O Velho Quadrinheiro

Aos 5 me mostraram o bichinho da maçã. Aos 7, o Menino Maluquinho. Aos 10 descobri o Pererê. Aos 12 reconheci a Supermãe na minha própria. Aos 14, num sebo, o traço de Ziraldo me convidou ao Pasquim e o ontem de quem já era adulto. Lá pelos 20, descobri Jeremias, o Bom, alguém que queria ser quando crescer. A Professora Maluquinha deu alento para quem começava na mesma carreira. Hoje, minha bebê descobre que o Manduca faz au-au, Mimosa faz muu e Serafim faz miau miau na Fazendinha Maluca.

Em retrospectiva, parece não ter momento de uma vida que Ziraldo não tenha chegado antes e dito algo reconfortante sobre a situação. De um tempo que o nós contra eles era armadilha fácil até para os mais sábios, Ziraldo certamente invadiu o mais aguerrido coração fazendo piada do absurdo de cada argumento. Não há censor que não esperasse ler aquelas páginas e desse a primeira risada, antes de qualquer um. Talvez por isso não há ninguém que ouse manchar o homem com tintas ideológicas. Carinho de todo tipo de leitor é talento para poucos. Obrigado, Ziraldo, o formidável.

Nataniel Gomes (coordenador do Núcleo de Pesquisa em Quadrinhos da Universidade do Mato Grosso do Sul – NUPEQ-UEMS)

Ziraldo foi um artista único, infelizmente pouco reconhecido pela academia. O mineiro que fez passeios pelos quadrinhos e pelos livros infantis deixou marcas em muitos leitores, como eu. Seu humor refinado, seu traço único, sua luta contra a ditadura militar, suas contribuições em O Pasquim marcam o que ele tinha de melhor para o grande público. É impossível não sentir o coração partido com a sua morte. Hoje o dia amanheceu cinza!

Washington Eloi Francisco (pesquisador de quadrinhos, membro do NUPEQ-UEMS)

Desde muito jovem, a obra de Ziraldo exerceu uma influência marcante em minha vida, moldando profundamente minha percepção sobre humor, arte e ativismo. A habilidade de Ziraldo em utilizar charges para comentar sobre a ditadura e os desafios sociais do Brasil sempre me fascinou, oferecendo-me uma lente crítica e, ao mesmo tempo, divertida para ver o mundo. Seu humor ácido, crítico, ambíguo e inteligente não apenas desafiava o status quo, mas também instigava uma reflexão profunda sobre os temas mais espinhosos de nossa sociedade. Ziraldo, com sua maestria, mostrou-me que o humor pode ser uma forma de resistência, uma arma contra a opressão e um veículo para a mudança social.

A coragem de Ziraldo em enfrentar a censura e expressar seu descontentamento com a situação política do Brasil durante períodos turbulentos, especialmente a Ditadura Militar, reforçou em mim a convicção sobre a importância da liberdade de expressão e do papel vital dos artistas como agentes de transformação social. Suas obras, ricas em conteúdo subversivo, tornaram-se uma fonte de inspiração para que eu também buscasse, através do humor e da arte, formas de contribuir para uma sociedade mais justa e questionadora. A maneira como Ziraldo articulava críticas sociais e políticas de forma sutil e engenhosa, sem nunca perder a leveza e o encanto, é algo que até hoje guia meu apreço pelo poder da sátira e da caricatura como formas de expressão profundamente impactantes.

Renato Ferreira Machado (pesquisador de quadrinhos, professor universitário)

Eu pensava que era um dos personagens do Pererê. Um personagem com um nome bem interessante – Ziraldo! Um personagem que tinha até uma assinatura, tipo o Zorro. Aliás, Ziraldo e Zorro começam com “Z”… Então, devia ser isso mesmo.

Depois, já como professor, “Ziraldo” passou a ser uma espécie de palavra sagrada. Onde estivesse aquele nome tinha coisa importante, apresentada de forma criativa, que eu poderia usar em sala de aula. Claro que o Menino Maluquinho me impactou, mas Menina Nina, livro no qual Ziraldo narra a morte da sua esposa através do olhar de sua neta… Cara!!! O que utilizei aquele livro para formação de professores não está no gibi!

Há pouco mais de vinte anos Carine, minha esposa, e eu nos encontramos com o Ziraldo em uma das edições do Fórum Social Mundial, aqui em Porto Alegre. Cruzamos com ele pelos corredores da PUC-RS e falamos: “Se a gente soubesse, teríamos trazido o Menino Maluquinho para ti autografar.” Ele abriu um sorrisão e disse: “Meus queridos! Fiquem com meu abraço!” E ficamos… Fique com o nosso também, Ziraldo, para sempre!

Gelson Weschenfelder, O Filósofo dos Quadrinhos (pesquisador de quadrinhos, autor de diversos livros e ártigos na área)

Ziraldo fez parte da infância de muitos, assim como da minha. Me lembro de ler O Menino Maluquinho e me ver nesse personagem. Depois conheci A Turma do Pererê, que trazia o tema do meio ambiente e era uma das poucas histórias quadrinizadas que via na escola. As produções de Ziraldo eram uma entrada de forma lúdica e crítica sobre o mundo em nossa volta. Graças a essas histórias com um tom cômico, auxiliou a promover o contato com a arte tanto em solo nacional como internacional, além de trazer críticas políticas e sociais de maneira leve. Uma das primeiras formas de muitos, assim como eu, aprendermos com a arte.

Bruno Andreotti, O Nerdbully

Eu decorei todas as páginas do Menino Maluquinho quando era criança antes mesmo de ser alfabetizado. Pedia tanto para meus pais lerem pra mim, que já sabia o que estava escrito em cada página só de ver as ilustrações. E isso resume todo meu respeito e admiração por esse artista incomparável.

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About Nerdbully

AKA Bruno Andreotti; Historiador e Mestre do Zen Nerdismo
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