Entenda como o discurso do Capitão Pátria explica o fenômeno da ascensão da direita ao poder.
Se havia, qualquer sutileza ficou para trás. A terceira temporada de The Boys oferece um reflexo pedagógico da nossa realidade.
Vale o aviso, spoilers à frente.
Após passar os dois primeiros episódios sendo constantemente frustrado e abalado emocionalmente pela morte de Tempesta, Capitão Pátria, em sinal de evidente descontrole emocional, tem um breve discurso inflado onde explicita para o público como ele entende os acontecimentos recentes, colocando-se em um lugar superior à humanidade e aos demais super-heróis. Ao mesmo tempo, se diz vítima de “gente rica e poderosa” que tentava controlá-lo. Você pode vê-lo abaixo.
A recepção do discurso já pode ser antevista na expressão de fascínio de Todd, namorado de Monique, ex-mulher de Leitinho. Tamanho despudor seria a prova da ausência do mínimo de integridade. Mas qual não é a surpresa quando ficamos sabendo, no episódio seguinte, que seu discurso inflamado lhe rendeu um aumento de 21 pontos em sua base de popularidade, um aumento de 44% com homens brancos do Rust Belt (“Cinturão da Ferrugem”), ao mesmo tempo em que caiu 7 pontos entre adultos de áreas urbanas entre 18 e 34 anos.
O Rust Belt é uma região do nordeste dos Estados Unidos composta pelos estados de Michigan, Minnesota, Ohio, Iowa, Pensilvânia e Wisconsin. A região teve uma grande importância industrial nos anos 50 e um declínio expressivo sobretudo a partir dos anos 80. O filme Robocop mostra muito bem essa decadência em sua versão de Detroit, que fica no estado de Michigan.
Os estados da região foram decisivos nas últimas eleições americanas. Eles garantiram a vitória à Obama em seus dois mandatos e também foram decisivos na vitória de Trump – a exceção foi o estado de Minnesota – e também na de Biden.
Mas o fato é que o discurso do Capitão Pátria foi bem recebido por homens brancos de uma região economicamente decadente e isso diz muito sobre a base de apoio a políticos populistas nacionalistas de direita como é o caso de Trump. No livro Nacional-populismo: A revolta contra a democracia liberal, os autores Roger Eatwell e Matthew Goodwin explicam em quatro pontos os motivos da adesão de parte da população a esse tipo de discurso.
Primeiro há uma desconfiança geral com a política, os políticos e as instituições, dando a sensação de que não há participação possível ou uma corrupção generalizadas. Segundo, há uma sensação de que modos de vida tradicionais estão sendo destruídos (veja como esses discursos frequentemente sustentam posições anti-minorias). Terceiro, há a sensação em certos grupos de que estão perdendo em relação a outros (por exemplo, os homens brancos do Rust Belt que situam-se em uma região de empobrecimento econômico ao longo das décadas) e, por fim, um distanciamento entre os partidos políticos dominantes e as pessoas comuns (lembre-se que foi a ala mais radical dos republicanos que apoiou Trump em seu golpismo após a derrota para Biden).
Todos os elementos estão presentes no discurso do Capitão Pátria. A menção aos ricos e poderosos que o tentam controlar, reverbera a desconfiança frente às instituições e aos partidos tradicionais, a posição de vítima diante deles ecoa a sensação de perda de poder de certos grupos com modos de vida tradicionais que se sentem ameaçados.
O discurso nacional populista de direita soube falar diretamente a uma parcela considerável da população, ameaçando a democracia nos Estados Unidos. A fala do Capitão Pátria é sobretudo sedutora, ao apelar para a vitimização ao mesmo tempo que empodera seus adeptos e cria inimigos invisíveis, gerando coesão e engajamento. No entanto, o histórico de votação do Rust Belt acima resumido mostra que aquela população não era intrinsecamente ligada ao discurso nacional-populista de direita, mas que, durante a eleição de Trump, este soube articular seu discurso às suas necessidades, como Biden o fez, preservando a democracia americana.
Se é verdade que o retrocesso democrático hoje começa nas urnas, como afirmam Steven Levitsky e Daniel Ziblatt em seu recente livro e já clássico Como as democracias morrem, também é verdade que o avanço da democracia é pelas urnas determinado, como foi nos Estados Unidos em 2020 e, esperamos, no Brasil nesse ano decisivo de 2022.
Tá aí, + 1 que não leu o material original, e quer erroneamente politizar com viés de esquerda uma sátira a Liga da Justiça, e aos super-heróis em geral, e a “Verdade, Justiça e o Jeito Americano…”
Tecer tais comentários sobre o capitão pátria, demonstra o já afirmado no parágrafo supra, desconhecimento do material original, e o maior spoiler da HQ (que ainda não se sabe se o seriado seguirá)…
Mais uma infeliz reportagem (se já não bastasse os absurdos sobre o MESTRE Romita Jr. – que há propósito, renderizou um dos visuais + aterradores do Mephisto e do Coração Negro quando de sua passagem pelo título do Demolidor)…
Ola. Acho que você cometeu um equívoco. Em nenhum momento o texto pretendeu-se uma análise do material original, que aliás não é citado em nenhum momento, e sim da série da Amazon Prime. O próprio produtor da série já confirmou que a comparação com Trump é válida, consta no link. https://br.ign.com/the-boys-26/99555/news/the-boys-capitao-patria-e-analogia-a-donald-trump-segundo-produtor
E mesmo assim querer tirar a parte política da obra original como vc quer fazer só mostra uma leitura míope da realidade.
Sobre as observações ao John Romita Jr, o mau gosto é todo seu.
Abraço.
Ahhh naooo, agora pronto, capitão pátria é de direita kkkkkkk qualquer ser psicopata vilão de séries ou filmes é de direita agora.
Que texto partidário, slk
Não acredite em mim, acredite no produtor da série: https://rollingstone.uol.com.br/entretenimento/boys-capitao-patria-e-satira-de-donald-trump-diz-produtor/
O texto obviamente traz um viés político. Só que fecha os olhos pra críticas que a série faz a esquerda também, como o papo furado do Trem Bala em voltar as suas origens, todas as críticas ao empoderamento que são só balelas pra empurrar marcas e incentivar consumo… Parece que cada um vê o que quer, mesmo com a série tocando o pau na hipocrisia de todos os lados, afinal, há maçãs podres em ambos.
Claro, a série toca em vários problemas dos Estados Unidos e do mundo, mas o foco não é ver o que se quer, e sim desenvolver, em um texto, os pontos que cada um acha que vale a pena trazer para o debate. Se estiver a fim de desenvolver esse ponto que você menciona em um texto, entre em contato no contato@quadrinheiros.com