Danger Street (Rua Perigo): o melhor lixo da DC Comics

Um projeto interessante (mas com problemas) pelas mãos de Tom King e Jorge Fornés (dupla de Rorscharch), que mistura o que de mais descartável foi produzido por grandes nomes como Jack Kirby, Joe Simon e Gerry Conway, Mike Grell.

Em 1974 o editor Carmine Infantino estava de saída do cargo na DC Comics e uma das últimas coisas que ele propôs foi uma série de títulos marcados como “primeira edição”, onde os artistas da casa poderiam jogar ideias engavetadas. As edições foram publicadas durante todo o ano de 1975 e a maior parte das histórias não teve continuação. Seus personagens, quando voltaram a aparecer pelas mãos de outros autores, tiveram vida curta (menos os Novos Deuses, mas dentro da série a edição dedicada a eles é uma tentativa de ressuscitar o título que havia sido cancelado alguns anos antes).

Jack Kirby é autor de três dos treze títulos da série – Atlas, Manhunter e Dingbats of Danger Street. Joe Simon assina dois – The Green Team e The Outsiders. Gerry Conway mais três – Codename: Assassin, Starman e o Return of the New Gods. Os outros títulos são Metamorpho, The Element Man (Bob Haney), Lady Cop (Robert Kangher), The Creeper (Michael Fleisher), The Warlord (Mike Grell) e Doctor Fate (Martin Pasko).

Nas 12 edições de Danger Street (Rua Perigo, aqui no Brasil), Tom King usa as 13 edições da 1st Issue Special de 1975 como um quebra-cabeças. O roteiro da história (com spoilers) é mais ou menos assim:

Três super-heróis que querem fazer parte da Liga da Justiça (Metamorfo, Starman e Warlord) planejam usar o elmo mágico do Senhor Destino (Dr. Fate) para atrair e capturar o deus Darkside. Eles atraem o deus errado (Atlas) e acabam matando-o. Essa morte leva à “queda do céu” (Atlas é o deus responsável por “segurar” o céu, na mitologia grega). Durante a batalha contra Atlas uma criança morre (um membro dos Dingbats da Rua Perigo) e o resto da gangue jura vingança. Noutro núcleo, o grupo de crianças bilionárias que comanda a mídia e a economia (The Green Team) contrata um assassino (Codname: Assassin) para protejê-los de um homem que está tentando matá-los (este homem é o Manhunter). O Green Team também contrata um apresentador de televisão (Jack Ryder, que também é o vigilante The Creeper) para conduzir uma campanha de difamação de um grupo chamado Outsiders. Enquanto isso os novos deuses Darkside e Pai Celestial tentam encontrar uma forma de “segurar” o céu enquanto enviam Órion para recuperar a alma de Atlas, na Terra. Em meio a tudo isso a policial Liza Warner (Lady Cop), tenta encontrar os responsáveis pela morte de um dos Dingbats.

A história é narrada pelo elmo do Senho Destino, que classifica os personagens como cavaleiros, reis, príncipes, princesas, montros e ogros. O autor joga com essa classificação para pontuar aspectos psicológicos dos personagens. Por exemplo, ele classifica os três super-heróis que iniciam a história (Metamorfo, Starman e Warlord) como príncipes (e não como cavaleiros, que seria mais óbvio). Assim ele nos diz que as ações deles não são de sacrifício em nome de um bem comum (o reino), mas sim em benefício próprio. Jack Ryder (The Creeper) é um ogro, e assim por diante.

A costura de todos esses elementos tem altos e baixos. Muitas coisas são bastante aleatórias na trama, embora tenham um desenvolvimento extenso (como no caso da edição número 9 que é exclusivamente dedicada a uma batalha entre Manhunter e Codiname: Assassin). Mas ainda assim, o elemento caótico e aleatório é parte essencial da trama (e isso fica claro nas últimas páginas da edição 12). A relação entre as gangues The Green Team e The Outsiders é muito perspicaz e coloca em choque a ideia de destino e de acaso.

O autor aproveita para debater temas atuais como as relações entre as corporações e a mídia, a necessidade de super-heróis (uma crítica a autoimagem dos Estados Unidos). Superman, por exemplo, é citado em todas as edições como aquele super-herói que não vem quando é chamado, ou como aquele que deveria ser chamado para resolver cada problema que aparece. Uma cena entre Jack Ryder e o Batman ilustra bastante essa crítica (na edição número 5). Jack sabe que o Batman é Bruce Wayne e deixa claro que não vai parar de “dar sua opinião” na mídia sobre os Outsiders (criando um inimigo e alimentando o medo). O Batman diz que os Outsiders não existem e Jack responde que os empregados da mansão Wayne assistem ao programa dele e portanto estão muito mais próximos dele do que de alguém como o Batman que olha pra eles de cima.

A cena é completamente aleatória (não tem impacto nenhum na história) e serve apenas para chocar o público diante de um Batman sem reação. A leitura de Danger Street é difícil, e sem o contrexto das 1st Issue Special pode ser um pouco confuso. Principalmente as diferenças entre as gangues e seus membros, que em determinados momentos parecem ser os mesmos personagens. O ponto alto são os diálogos, que muitas vezes são bem extensos. A série é um ideia interessante, mas que tem alguns problemas de execução. Aqui no Brasil a Panini já lançou o primeiro volume com 6 edições.

Pelo preço (R$54,90) eu não faria esse investimento…

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About Picareta Psíquico

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